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sábado, junho 30, 2007

AOS QUE VIEREM DEPOIS DE NÓS



Bertolt Brecht (Tradução de Fernando Peixoto)


É verdade, eu vivo num tempo sombrio!

Uma palavra sem malícia é sinal de tolice.

Uma testa sem rugas é sinal de indiferença.

Aquele que ri

Ainda não recebeu a terrível notícia.

Que tempos são esses, quando

Falar sobre árvores é quase um crime

Pois significa silenciar sobre tanta injustiça?

Aquele que atravessa a rua tranqüilo

Já está inacessível aos amigos

Que passam necessidades?

É verdade: eu ainda ganho bastante para viver.

Mas acreditem: é por acaso.

Nada do que faço

Me dá o direito de comer quando tenho fome.

Estou sendo poupado por acaso.

(Se a minha sorte me deixa, estou perdido.)

Me dizem: come e bebe!

Fica feliz por teres o que tens!

Mas como é que eu posso comer e beber

Se a comida que como, tiro de quem tem fome?

Se a água que bebo, faz falta a quem tem sede?

Mas mesmo assim, eu como e bebo.

Eu queria ser um sábio.

Nos livros antigos está escrito o que é a sabedoria: Se manter afastado dos conflitos do mundo

E passar sem medo

O curto tempo que se tem para viver;

Seguir seu caminho sem violência;

Pagar o mal com o bem;

Não satisfazer os desejos, mas esquecê-los.

Sabedoria é isso!

Mas eu não consigo agir assim!

É verdade, eu vivo num tempo sombrio!

Eu vim para a cidade no tempo da desordem

Quando a fome reinava.

Eu vim para o convívio dos homens no tempo da revolta

E me revoltei ao lado deles.

Assim se passou o tempo

Que me foi dado viver sobre a Terra.

Eu comi o meu pão no meio das batalhas.

Para dormir, eu me deitei entre os assassinos.

Fiz amor sem muita atenção

E não tive paciência com a Natureza.

Assim se passou o tempo

Que me foi dado dado viver sobre a Terra.

No meu tempo as ruas conduziam ao lodo,

E as palavras me denunciavam ao carrasco.

Eu podia muito pouco, mas o poder dos patrões

Era mais seguro sem mim, espero.

Assim se passou o tempo

Que me foi dado dado viver sobre a Terra.

As forças eram limitadas.

O objetivo permanecia a uma longa distância.

Era nitidamente visível, mas para mim

Quase fora do alcance.

Assim se passou o tempo

Que me foi dado dado viver sobre a Terra.

Vocês, que vão emergir

Das ondas em que nos afogamos.

Pensem, quando falarem das nossas fraquezas,

Dos tempos sombrios de que tiveram a sorte de escapar.

Nós existíamos através das lutas de classes,

Mudando mais de país do que de sapatos,

Desesperados quando só havia injustiça

E não havia revolta.

Nós sabemos: O ódio contra a baixeza

Também endurece o rosto;

A cólera contra a injustiça

Também faz a voz ficar rouca.

Infelizmente nós,

Que queríamos preparar o terreno para a amizade,

Não pudemos ser, nós mesmos, bons amigos.

Mas vocês, quando chegar o tempo

Em que o Homem seja amigo do Homem,

Pensem em nós

Com simpatia.

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