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domingo, março 25, 2007

Uso de incentivo fiscal no "bonde" divide escritores

Outro ponto criticado no projeto é a suposta "panelinha" entre participantesRoteiro de viagens, que exclui países mais pobres e inóspitos, também é questionado pelos contrários à "gandaia"DA REPORTAGEM LOCAL

A Folha ouviu os principais personagens dessa polêmica. Para o editor da Companhia das Letras, Luiz Schwarcz, Amores Expressos é um caso de "uso positivo" da lei. "O que há de errado em usá-la para viabilizar a obra de novos autores, numa área em que os recursos são poucos?"Sérgio Sant'Anna, um dos passageiros do "bonde", acusou Mirisola de "mesquinharia e inveja" e contou que o escritor pedira, há pouco, que ele escrevesse uma carta de recomendação para que o autor pleiteasse uma bolsa da Secretaria Municipal da Cultura.Há quem diga que o projeto não beneficia em nada a literatura brasileira, somente os escritores que participam dele. É o caso do escritor Ademir Assunção. "O mercado deve viabilizar a si mesmo, não pode ser movimentado pelo dinheiro público. Se fosse para participar de feiras de livros ou de debates em universidades no exterior, ok." Há cerca de dois anos, Assunção entregou ao MinC o documento Literatura Urgente, cobrando fomento à produção literária. A proposta não rendeu frutos.Já Antonio Prata, que vai para Xangai, acha que em vez de polemizar o "bonde", as pessoas deveriam estar discutindo se o Estado deveria dar dinheiro para a cultura ou não. "Como avaliar escritores num concurso público? Quem apresentar metáforas por um preço mais baixo leva?"

Mochilão

O fato de o projeto prever viagens internacionais, num circuito tipo Elizabeth Arden, também irrita os críticos do Amores Expressos. Ao que parece, alguns considerariam o projeto aceitável se os viajantes fossem para lugares mais pobres e inóspitos, com escassas possibilidades de diversão. É o argumento do escritor Ricardo Lísias, que se alinha a Mirisola. "Por que ninguém vai para a África negra? Não há amor na Faixa de Gaza? Nem na favela de Cité Soleil, no Haiti?"A escolha das cidades, explica Cuenca, levou em conta dois fatores: o aspecto mercadológico, ou seja, a curiosidade que uma cidade como Tóquio pode gerar nos leitores. E o aspecto de identificação da cidade com a obra do autor: "O Joca Reiners Terron tem uma relação com Cairo. O Sérgio Sant'Anna, com Praga. Existe uma escolha estética sutil aí também. Por achar que determinada cidade rende em termos de criação literária, seja pela afinidade que ela pode ter com o lugar ou pelo estranhamento que pode causar", defende Cuenca.

É o amor

A temática do projeto - as histórias de amor- também foi alvo de ataques. "Como é que, em 2007, um escritor pode aceitar a proposta de escrever uma história de amor em Paris? Isso é dinheiro público financiando clichês", solta Mirisola. Para Sérgio Rodrigues, "essa coisa dos amores em cidades do exterior é um pouco jeca". Mas nem por isso ele se coloca contra a idéia. "Vamos aguardar o resultado. Torço para que saiam bons livros daí", conclui.Também contra os clichês se posiciona Ana Paula Maia, jovem autora do Rio, que perdeu o "bonde". "Se me jogassem em qualquer lugar do mundo, eu arrumaria umas brigas, me acidentaria, tomaria uns foras, levaria umas porradas e escreveria um "road movie" violento", brinca a escritora. Cuenca defende-se dizendo que acha sedutora a idéia de histórias de amor que se passam em terras estrangeiras, que estas podem ser obscuras, vão variar de acordo com os diferentes estilos literários dos autores e que formarão um panorama das relações hoje em dia. Ele diz ainda que vê como desafio o que os outros vêem como lugar-comum:"A Adriana Lisboa vai ter que inventar uma história de amor que não seja clichê", diz o escritor. "Nenhum deles vai escrever uma "love story" açucarada. Você consegue ver o Mutarelli fazendo algo assim?"

Amigos de Cuenca

Resta o terceiro ponto da polêmica. Blogueiros e escritores que ficaram de fora do projeto reclamam em coro de que a seleção configura "formação de panelinhas", ou seja, privilegia um grupinho de amigos."Quer que eu diga qual é o critério?", pergunta Mirisola. "Digo e repito. O critério é o compadrio, conseqüentemente, a gandaia."Há quem assuma o ciúme, como o escritor Santiago Nazarian, que conheceu Cuenca na primeira edição da Flip (Festa Internacional de Parati), em 2004, quando passaram uma temporada na cidade para escrever os contos do livro "Parati para Mim", projeto que incluiu ainda Chico Mattoso, outro escritor convidado a viajar no "bonde"."Assumo que fico com inveja, todo mundo que está de fora fica. Obviamente pode ter pessoas que eles [Teixeira e Cuenca] gostem ou admirem mais como escritores, mas é claro que preferem mandar os amigos. Ao mesmo tempo acredito que eles não iam mandar apenas amigos, que não fossem bons escritores, e que depois entregariam uma merda para a Companhia publicar."Teixeira se defende. "Ninguém questiona um diretor de cinema sobre quais artistas vai usar no seu filme. O projeto é meu, e eu tenho todo o direito de usar a lei, já que ela existe."Cuenca, que dividiu com Teixeira a escolha dos autores, justifica o seu time. "Quem dera eu fosse amigo pessoal de escritores como Sérgio Sant'Anna e Bernardo Carvalho, que admiro profundamente. O André de Leones eu nunca vi. Com o Ruffato eu devo ter me encontrado duas vezes. Também não chamaria inimigos. Ninguém quer trabalhar com inimigos."O jornalista e colunista da Folha Manuel da Costa Pinto aponta uma curiosidade no caso dos jovens autores selecionados. "A Companhia das Letras nunca foi uma editora reveladora de talentos, e agora ironicamente vai sair dessa história como tal."

Sem relevância

Cuenca por fim afirma que "nenhuma voz relevante" se levantou contra o projeto, apenas "meia dúzia de comentaristas de blog". E dá um conselho aos que não entraram: "Que se articulem, formalizem um projeto e usem a Lei Rouanet". (EDUARDO SIMÕES e SYLVIA COLOMBO)

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Amar remete a uma dificuldade... nem por ser de idade ou por conta da cidade. A dificuldade estah na vaidade. Amamos menos aos outros......