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terça-feira, novembro 27, 2007

O nascimento


Nasceu dia 26 de novembro de 2007 às 11:55, Cássio Junior, meu sobrinho lindo de viver.
Bem vindo ao mundo, meu querido.

quarta-feira, novembro 21, 2007

domingo, novembro 18, 2007

Por que?

Tenho que me esconder atrás de um sorriso forçado,
para que ninguém veja a minha tristeza.
Tenho que respeitar os mais fortes, para esconder a minha fraqueza.
Disfarçar a idade, a angústia, o medo.
A vida toda passei assim:
Me escondendo e fugindo de mim...
do que sou,
do que posso me tornar.
Por que?

sexta-feira, novembro 16, 2007

Sentimentos


Aqui sepulto...
meus sentimentos.
Minhas ilusões,
decepções...
meu orgulho
e toda a ingratidão recebida.

segunda-feira, novembro 12, 2007

MUDE



Mude,

mas comece devagar,

porque a direção é mais importante

que a velocidade.

Sente-se em outra cadeira,

no outro lugar da mesa.

Mais tarde, mude de mesa.

Quando sair,

Procure andar pelo outro lado da rua.

Depois, mude de caminho,

ande por outras ruas,

calmamente,...



Edson Marques
MUDE

Mude,
mas comece devagar,
porque a direção é mais importante
que a velocidade.
Sente-se em outra cadeira,
no outro lugar da mesa.
Mais tarde, mude de mesa.
Quando sair,
Procure andar pelo outro lado da rua.
Depois, mude de caminho,
ande por outras ruas,
calmamente,...

Clarice Lispector

Ofereço

Ofereço uma flor
para cada lágrima derramada,
cada sentimento perdido,
cada pessoa mal amada.
Um flor para quem se foi,
para quem virá...

domingo, novembro 11, 2007

MATINAL


Paulo Henriques Britto


Nesta manhã de sábado e de sol
em que o real das coisas se revela
na forma nada transcendente
de uma paisagem na janela
num momento captado em pleno vôo
pela discreta plenitude
de não ser mais que um par de olhos
parado no meio do mundo
tantas coisas se fazem conceber
fora do tempo e do espaço
até que o instante se dissolva
enfim em mil e um pedaços
feito esses furos de pregos
numa parede vazia
a insinuar uma constelação
isenta de qualquer mitologia.

quinta-feira, novembro 08, 2007

Balada Literária


PROGRAMAÇÃO

DIA 15 – QUINTA-FEIRA

10h30 — LIVRARIA DA VILA
RONALD POLITO conversa com ROBERTO PIVA, ao lado de CLAUDIO WILLER, GLAUCO MATTOSOe PAULO SCOTT
Mesa de abertura em que ROBERTO PIVA encontra dois companheiros de geração, CLAUDIO WILLER e GLAUCO MATTOSO, e PAULO SCOTT, autor surgido nos anos 90. A mediação é do poeta RONALD POLITO, um dos editores da obra reunida do homenageado.

14h30 — LIVRARIA DA VILA
ANTONIO VICENTE PIETROFORTE conversa ALONSO SÁNCHEZ, JOÃO SILVÉRIO TREVISANe SUÊNIO CAMPOS DE LUCENA
O professor de Teoria Literária da USP ANTONIO VICENTE conversa com JOÃO SILVÉRIO TREVISAN e SUÊNIO CAMPOS DE LUCENA, entre outros temas, sobre homossexualidade na literatura. Participa também da mesa o colombiano ALONSO SÁNCHEZ, autor do best seller Al Diablo la Maldita Primavera, que aborda o universo gay em Bogotá.

17h00 — LIVRARIA DA VILA
JOCA REINERS TERRON e MARIA ALZIRA BRUM LEMOS conversam com DAVID TOSCANA
O escritor JOCA REINERS TERRON e a escritora e tradutora MARIA ALZIRA BRUM LEMOS conversam com o mexicano DAVID TOSCANA, que vem a São Paulo para lançar, na Balada Literária, o romance O Exército Iluminado (Casa da Palavra).

20h30 — BALADA NO CENTRO CULTURAL b_arco
Especial POPULAR, comandado por PAULO SCOTT, com lançamentos e a participação de vários artistas
A primeira festa do evento acontecerá no Centro Cultural b_arco, em noite comandada pelo poeta e prosador PAULO SCOTT, que traz mais uma vez a São Paulo o especial POPULAR. Dele participarão, entre outros artistas, CHACAL, CLARAH AVERBUCK, FERNANDA D’UMBRA, FERRÉZ, IVANA ARRUDA LEITE e WANDER WILDNER.

DIA 16 – SEXTA-FEIRA

10h30 — LIVRARIA DA VILA
FREDERICO BARBOSA conversa com MIRÓ, SEBASTIÃO NUNES e SÉRGIO VAZ
Um bate-papo em que se encontram, pela primeira vez, quatro poetas (um de São Paulo, dois pernambucanos e um mineiro) que têm em comum o fato de serem também militantes, editores e divulgadores de poesia.

14h30 — LIVRARIA DA VILA
MICHEL LAUB conversa com BRÁULIO TAVARES, ÍNDIGOe TONY BELLOTTO
O jornalista e escritor gaúcho MICHEL LAUB reúne vários gêneros em uma mesma mesa: a ficção científica de BRÁULIO TAVARES, a literatura infanto-juvenil de ÍNDIGO e o romance policial de TONY BELLOTTO.

17h00 — LIVRARIA DA VILA
ANA CECÍLIA OLMOS e NELSON DE OLIVEIRA conversam com SERGIO CHEJFEC
Uma das principais revelações da nova literatura argentina, SÉRGIO CHEJFEC fala sobre sua obra e aspectos da ficção latino-americana atual com a professora da USP ANA CECÍLIA OLMOS e com o escritor e ensaísta NELSON DE OLIVEIRA.

19h30 — TEATRO DA VILA - SATYROS
Apresentação da peça Dois Perdidos Numa Noite Suja,de Plínio Marcos, com ELLIOT ALEX e ROGÉRIO MANJATE,da Oficina de Teatro Galagalazul, de Moçambique
Dois atores moçambicanos, ELLIOT ALEX e ROGÉRIO MANJATE (também poeta e prosador), trazem pela primeira vez ao Brasil a montagem, já apresentada em vários festivais internacionais, do clássico Dois Perdidos Numa Noite Suja, de Plinio Marcos.

21h00 — BALADA NA MERCEARIA SÃO PEDRO
Lançamento dos livros Caballeros Solitários Rumo ao Sol Poente,de XICO SÁ, pela Editora do Bispo,e O Herói Hesitante, de DANISLAU TAMBÉM
A segunda festa do evento acontece na Mercearia São Pedro, quando serão lançados o romance Caballeros Solitários Rumo ao Sol Poente, do jornalista e escritor Xico Sá (Editora do Bispo), e o livro de poesias O Herói Hesitante, de Danislau Também (Edição do Autor).

DIA 17 – SÁBADO

10h30 — LIVRARIA DA VILA
ANDREA DEL FUEGO conversa com CAROLA SAAVEDRA, FEDERICO LAVEZZO e JOÃO ANZANELLO CARRASCOZA
ANDREA DEL FUEGO discutirá com os convidados a literatura feita hoje no Brasil e na Argentina. Na ocasião, serão lançadas as antologias 15 Cuentos Brasileros, organizada pelo argentino FEDERICO LAVEZZO (Editora Comunicarte), e Terriblemente Felices, também de contos brasileiros, organizada pelo argentino CRISTIAN DE NÁPOLI (Editora Emecé).

14h30 — LIVRARIA DA VILA
MARCELO CARNEIRO DA CUNHA e RONALDO BRESSANE conversam com MARIO BELLATIN
Os escritores MARCELO CARNEIRO DA CUNHA e RONALDO BRESSANE conversam com o mexicano MARIO BELLATIN. Ele, um dos mais conhecidos e cultuados narradores latino-americanos, fala sobre sua obra, a Escola Dinâmica de Escritores, criada e dirigida por ele na Cidade do México, e apresenta Salão de Beleza, seu primeiro livro publicado no Brasil (Editora Leitura XXI).

17h00 — BIBLIOTECA ALCEU AMOROSO LIMA
XICO SÁ conversa com ANA PAULA MAIA, FERRÉZ e ROGÉRIO MANJATE
Em comemoração ao Mês da Consciência Negra, XICO SÁ conversará sobre literatura e preconceito com os brasileiros ANA PAULA MAIA e FERRÉZ e o moçambicano ROGÉRIO MANJATE.

19h00 — BIBLIOTECA ALCEU AMOROSO LIMA
Show Cantos Negreiros, com ALOÍSIO MENEZES,FABIANA COZZA e MARCELINO FREIRE
A comemoração continua com a apresentação do espetáculo literomusical Cantos Negreiros, com a cantora paulistana FABIANA COZZA e o cantor baiano ALOÍSIO MENEZES. Participação do escritor MARCELINO FREIRE, autor do livro Contos Negreiros, em que o show está baseado, e dos músicos DOUGLAS ALONSO (percussão), MARCOS PAIVA (violão) e RODRIGO CAMPOS (cavaquinho).

21h30 — TEATRO DA VILA - SATYROS
Apresentação da peça Dois Perdidos Numa Noite Suja,de Plínio Marcos, com ELLIOT ALEX e ROGÉRIO MANJATE,da Oficina de Teatro Galagalazul, de Moçambique

23h00 — BALADA NO Ó DO BOROGODÓ
Roda de samba com FABIANA COZZA e convidados
A terceira festa do evento, comandada por FABIANA COZZA, acontece em um dos mais agitados redutos do samba paulistano, o bar Ó do Borogodó.

DIA 18 – DOMINGO

14h30 — ESPECIAL — LIVRARIA DA VILA
MANUEL DA COSTA PINTO conversa com ANTÔNIO CÂNDIDO, BÓRIS SCHNAIDERMAN e DAVI ARRIGUCCI JR.
Esta mesa, mediada por MANUEL DA COSTA PINTO, homenageia o crítico e ensaísta pernambucano JOÃO ALEXANDRE BARBOSA, morto em 2005, e coloca em pauta a crítica brasileira. Na ocasião, serão lançados os livros A Comédia Intelectual de Paul Valéry, pela Iluminuras, e Leituras Desarquivadas, pela Ateliê Editorial, ambos de João Alexandre Barbosa, além do livro-homenagem João Alexandre Barbosa: o Leitor Insone, organizado por Plinio Martins e Waldecy Tenório, pela EDUSP.

17h00 — CENTRO CULTURAL b_arco
CLAUDINEY FERREIRA e RITA CHAVES conversamcom JOSÉ LUANDINO VIEIRA
O jornalista CLAUDINEY FERREIRA e a professora de Literatura Africana da USP RITA CHAVES conversam com o angolano JOSÉ LUANDINO VIEIRA, uma das principais vozes da literatura em língua portuguesa. Agraciado com o Prêmio Camões de 2006, recusou a premiação. Entre seus diversos volumes de narrativa, destacam-se o livro de contos A Cidade e a Infância e o de estórias Luuanda (Companhia das Letras), em lançamento na Balada Literária.

20h00 — ENCERRAMENTO — CENTRO CULTURAL b_arco
Ensaio aberto do espetáculo literomusicalMercadorias e Futuro, com JOSÉ PAES DE LIRA,LIRINHA, do CORDEL DO FOGO ENCANTADO
O cantor e compositor pernambucano LIRINHA, do grupo CORDEL DO FOGO ENCANTADO, mostra, neste ensaio aberto, o que virá a ser o seu espetáculo solo e literomusical Mercadorias e Futuro, título de seu primeiro romance, inédito.

ESPECIAL DURANTE TODA A BALADA
Exposição de fotografias do livroO Lugar do Escritor, de EDER CHIODETTOOficina do projeto DULCINÉIA CATADORA

Mais informações: http://www.baladaliteraria.org/home.html
Só quero que
a minha inspiração volte...
que eu possa proferir palavras agradáveis
ser mais feliz e romântica.
Sinto falta disso...

segunda-feira, novembro 05, 2007

Adeus Duda Bandit

Eu não o conhecia pessoalmente. Conversava com ele através do orkut, onde o mantinha informado dos lançamentos do Ricardo Lísias. Ele, fã de Mirisola, com o tempo, ficou fascinado em saber que eu interagia com o Lísias nos Seminários da Casa da Palavra.
Hoje, abro meu orkut e recebo uma mensagem triste.
Duda Bandit, se foi...segue abaixo homenagem feita em seu blog:
http://deitandocabelo.blogspot.com/

Estou tentando, um pouco por obrigação, um pouco por necessidade. Um cara que foi importante na minha vida merecia isso, merecia um último desejo pedido tacitamente. É como se ao abrir aquela caixa azul me fosse exigido este texto sobre sua vida e nossa amizade e, é claro, todas as obrigações provindas deste ato. Mas, remoendo fundo dolorosas lembranças, não acho o momento exato, o choque... Bandit apareceu na minha vida, tudo se impôs por uma misteriosa afinidade, perdeu-se a memória do primeiro encontro, restou um todo sem início e sem fim definido (apesar do que aconteceu). Bandido, era assim que eu o chamava, tinha tudo que eu desejei ter, e ele, na contramão, dizia que eu possuía tudo o que ele queria... ah, meu amigo, não sabes o tanto que invejei seu ar torpe, sua auto-suficiência e apatia representada... Resumo tudo assim: Saulo, o diplomático, Duda, o leviano; Saulo, o coerente, Duda o insensato; Saulo, o apolíneo, Duda, o dionisíaco... Completávamos-nos em nossas incompletudes e ainda assim, apesar de tudo, nós dois não estávamos satisfeitos.
Nossa grande paixão em comum, entre tantas outras, eram as motocicletas, foi seu caso de amor com uma delas que lhe valeu na noite o apelido de que tanto gostava: Bandit, a máquina fabricada pela suzuki. Compartilhávamos também um apreço pela filosofia de Cioran, literatura francesa e um pouco de contravenção, eu muito menos...
Duda me mostrava seus escritos e eu aconselhava a publicação, frases elaboradas quase sempre quando chegava das agruras da noite, querendo manter nítido na memória tudo que acontecia. Daí surgiu o blog, no início duro, vertiginoso... mas depois veio uma chance de redenção, a cada palavra foi ficando menos torpe, embora mais confuso, senti em seu texto uma abertura para a poesia e para o lirismo, um bandido cansado e melancólico, sofrendo o estranhamento das almas, o padecimento por fêmea... não escondo que vibrei com a última fase, pois Bandit sempre me espinafrou por sofrer estas coisas na pele... era como se eu dissesse, “até tu, bandido?”... ele finalmente entregava os pontos, “somos parecidos, Sal... tão iguais às vezes!” Fui citado uma vez em seus contos, talvez duas, mas ele me dizia que eu sempre estava presente. “Mas onde estou, bandido?” Perguntava... “ao meu lado, hermano... sempre ao meu lado.”
***
Seu desaparecimento não teve espectadores, embora haja quem afirme ter visto um risco de fogo rasgando o céu naquela noite sem lua, “no flanco do motor vinha um anjo encouraçado”... as câmeras mostram sua entrada na ponte e não atestam a saída, nada encontrado... um longo mergulho no vão central da Terceira Ponte beijando o mar que ele adorava olhar, elucubrações... Uma morte anunciada, você talvez dissesse, caro DB... Sempre falou que tinha vivido demais em seus trinta anos quase completos, que tinha escapado por um triz tantas vezes que cada dia era prorrogação... eu ria, não acreditava, embora algo em mim recomendasse cautela.
As circunstâncias do possível acidente são estranhas e sujeitas a especulações. Não entrarei neste mérito. Dias depois as autoridades policiais consolidaram o entendimento em direção à queda de Duda e sua morte no mar. Foi quando recebi uma caixa azul, dessas de camisa, entregue por Bárbara Bonheur, a escritora. Abatida, olhos fundos, ela bateu na minha porta, entregou e saiu sem falar quase nada sobre aquilo, apenas “oi”, “ele mandou te entregar se um dia não pudesse” e “adeus”. Fechei a porta e coloquei a encomenda na mesa da cozinha, ao lado de uma generosa dose de uísque, sabia que ia doer. Olhei aquela matéria na mesa por um tempo. Depois abri e a primeira coisa que reconheci foi o exemplar de Crime e Castigo, livro preferido dele, depois veio a senha deste blog e um poema escrito com sua letra irregular com cópia datilografada:
Pensa no Fausto,
Pensa na espessura da queda
(a queda pode ser doce)
Nunca te esqueças de Artaud, dos duplos
Não existe limite entre arte e vida,
de resto é estelionato...
Leia umas páginas do Céline
E se tudo for em vão
Percorra o velhão
Um poema bêbado de Bukowski...
Depois beba uma cerveja no balcão do bar
Não te esquecendo de deixar no rosto
O semblante de quem sabe o que está acontecendo.
****
Um envelope no fundo da caixa estava cheio de textos, alguns já publicados aqui, outros inéditos. Entre eles a versão integral da famigerada “HH, uma novelinha escorada”... Do lado de fora seu nome em letras vermelhas “Duda Bandit”. De todos os textos, um inédito chama a atenção pelo tema bastante estranho na obra do bandido, alguns poderão considerá-lo “visão profética”, auto-profética, aliás... Reproduzo:
Palavras sobre o sentimento aquático de não estar quando se está e vice-versa...
Borbulhou uma, duas vezes, nem tentou respirar, gravidade atuando de forma nova... uma vida presa ao chão sendo questionada... sabia que sem respirar resistiria por no máximo três minutos... mas agradeceu pela ciência de que restava tão pouco, uma certeza enfim... nem questionou o opus, nem pensou em ninguém, sentiu-se patético mais uma vez na vida, agora pela última vez... tentou acostumar-se com a visão turva, o líquido pressionando os olhos, a corrente o fazia dançar, logo ele que nunca dançava por recomendação expressa de Norman Mailer (os machões não dançam), pensou quanto tempo tinha passado, nem trinta segundos, se esperasse viver até 60 anos tinha gasto apenas dez por cento de toda sua vida, seria o equivalente a 6 anos, uma criança ainda... a aventura do tempo mais uma vez, pensou na relatividade e lamentou seu desinteresse pela física e pelos filósofos da lentidão e velocidade... agora nem tinha importância, agora era tarde e era o mesmo... mas queria ter ciência daquilo tudo, interesse pela esquisitice das alminhas... deu um sorriso e pensou que agora tinha terminado mais um minuto, um terço da nova realidade... em vinte anos já teria levado porrada o suficiente e as noites torpes já apareceriam na pele...mas não se conformava com a turvação, queria uma imagem nova para terminar seus dias, e neste impulso já se esgotavam dois minutos, quarenta anos tão rápido, acostumava-se, resignava-se... o filho que não teve, o fruto que não gerou, nada interessava pois sequer via um palmo à sua frente, o ar faltava, sentia o pulmão cheio, mas carecia do oxigênio necessário... soltou mais algumas borbulhas para aliviar o peito e tentou se concentrar e potencializar o que ainda restava, prendia-se forte às ultimas moléculas de oxigênio... os sentidos já falhavam, os olhos já fechavam, nem se mexeu mais, esperou, esperou... membros formigavam, o pulmão explodia chamando ar, desfaleceu dez segundos antes de completar três minutos... o mundo acima contava menos um e era o mesmo, absurdamente o mesmo.
***
Nego a visão profética, em primeiro lugar porque se Bandit realmente caiu do vão central da Terceira Ponte estamos falando de uma altura de 70 metros, impossível submergir no mar e sentir tudo que representou no texto, o impacto na água é morte certa e rápida. Se fosse para ser profético, e conhecendo o cara, digo que ele teria falado sobre a sensação da queda, como o falou em poema dedicado à menina de Madrid pouco antes do desaparecimento e cujo fragmento serve de epígrafe a esta carta-depoimento... prefiro, antes, encarar o poema-prosa acima como uma brincadeira infantil sobre o fingir morrer quando se banha na praia e esgoto aqui o tema... preocupo-me antes quanto ao envelope e os destinos do blog, tenho obrigações de depositário. Eu sei o que devo fazer. Mas não é tão simples.
Três dias depois me faltam forças para destruir tudo, clicar naquele lugar e confirmar. Já tentei duas vezes. Mas sinto que é preciso. Duda dizia sempre, “minha vida surgiu pra acabar em livreco, bicho! Daqueles de papel jornal, subliteratura”.
Como deixar de lembrar as noites em que rodávamos pelo prazer de rodar, as motocicletas emparelhadas, o zunir do pneu no asfalto... a Long Nec no balcão do bar e a gente fingindo nem notar as moças que passavam, como se o ar da noite bastasse para aliviar as dores do mundo... tenho de ser fiel ao desejo oculto do bandido.
***
Então é isso. Preciso fazer a vontade de Duda Bandit, o cara durão que se passava por Samuel Spade em homenagem a Dashiell Hammett, que apreciava inferninhos e literatura, que sempre metia os pés pelas mãos com as mulheres, olhava o mar e lia os franceses, embora se realizasse com John Fante e Charles Bukowski.
Bandit, preciso fazer justiça, levou sua artevida muito a sério. Via poesia nos semáforos e desprezava escritores e artistas na mesma proporção em que amava a criatividade... (vou sentir sua falta, amigo).
Meu irmão, tu deves estar feliz com esse final, seja ele verdadeiro ou falso (como confiar na polícia?) foi digno da vertigem da Ilha do Cão... De minha parte, sei que não sou o mesmo hoje, assim como você saiu de sua torpeza extrema, eu, na mesma proporção, saí de minha delicadeza drástica... já não recito Rimbaud,
“Par délicatesse J' ai perdu ma vi.”
Chega a hora do adeus... eu, depositário de tuas palavras, digo: vai, Bandido... vai queimar pneu no asfalto etéreo...
Saulo Ribeiro
Vitória do Espírito Santo na primavera de 2007.

domingo, novembro 04, 2007

Meus passos


Siga meus passos solitários
me encontre...
Tente me fazer feliz de novo.
Cansei de ver apenas as minhas pegadas na areia.

Postagem em destaque

Amar remete a uma dificuldade... nem por ser de idade ou por conta da cidade. A dificuldade estah na vaidade. Amamos menos aos outros......